Em sua primeira visita oficial à África, a presidenta Dilma Rousseff visitou dia 19 de outubro, Maputo, capital de Moçambique, país africano em que o Brasil mantém o leque de projetos de cooperação mais diversificado. No início da manhã, a presidenta participou de cerimônias alusivas aos 25 anos do falecimento do ex-presidente e herói da independência Samora Machel. No Monumento aos Heróis Moçambicanos, Dilma Rousseff prestou homenagem ao primeiro presidente do país.
Em seguida, reuniu-se com investidores brasileiros e participou de almoço oferecido pelo governo moçambicano. À tarde, foi recebida pelo presidente Armando Guebuza. De lá, a presidenta segue para Luanda, na Angola, onde encerra amanhã a visita à África.
Durante o encontro, segundo nota do Itamaraty, Dilma Rousseff e Armando Guebuza iniciaram negociações para a assinatura de um novo acordo de cooperação técnica entre Brasil e Moçambique. Trataram, ainda, da diversificação da matriz energética dos países do Sul em desenvolvimento, para lhes conferir maior flexibilidade e independência em suas políticas de energia e desenvolvimento econômico sustentável.
No plano internacional, os presidentes abordaram questões relacionadas à cooperação Sul-Sul e à governança global, defenderam a reforma de organismos multilaterais, reconheceram a importância da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), que será realizada em junho de 2012 no Brasil, e expressaram preocupação com a crise financeira internacional. Nesse sentido, ainda de acordo com o MRE, concordaram que o G20 deve voltar a demonstrar capacidade de resposta conjunta frente à atual situação econômica mundial, como aconteceu em 2008.
Cooperação
Em Moçambique, o Brasil apoia iniciativas nas áreas de saúde, como a produção de antirretrovirais; educação e formação profissional, com destaque para a Universidade Aberta do Brasil, que atende atualmente a cerca de 600 alunos em diferentes regiões, e o intercâmbio de 400 estudantes moçambicanos em universidades brasileiras; agricultura, com o projeto Pró-Savana de desenvolvimento nas savanas tropicais, executado em conjunto com o Japão; e formação profissional. A cooperação brasileira naquele país deve absorver, entre 2010 e 2013, cerca de US$ 70 milhões.
Um dos objetivos da visita da presidenta a Moçambique é também ampliar as relações bilaterais e fortalecer o comércio entre os países. Nos últimos anos, os investimentos brasileiros em Moçambique cresceram de modo significativo na exploração mineral e nos setores de logística e energia. Se, entre janeiro e agosto de 2010, o comércio bilateral foi de US$ 25 milhões, no mesmo período de 2011, superou a marca dos US$ 60 milhões. Destaque para os setores de carnes, veículos, caldeiras, máquinas e tabaco.
Banco Mundial: - Relação Brasil-África pode religar os 2 lados do Atlântico
Outrora pedaços de um único território, Brasil e África estão desenvolvendo um modelo de relações que tem o potencial de religar as duas margens do Atlântico Sul, segundo um relatório do Banco Mundial obtido pela BBC Brasil.
O documento, cuja versão inicial deve ser divulgada no fim deste mês, analisa a intensificação das relações entre Brasil e África a partir de 2003, quando o governo Luiz Inácio Lula da Silva elegeu o continente como uma das prioridades de sua política externa, parte da estratégia de ampliar a influência brasileira no mundo.
"Há cerca de 200 milhões de anos, África e Brasil integravam o continente de Gondwana. Hoje, ambos estão restabelecendo conexões que podem criar impactos significativos na prosperidade e no desenvolvimento dos dois", afirma o Banco Mundial.
Segundo o relatório, um dos principais aspectos dessa aproximação foi o incremento no comércio entre Brasil e países africanos, que quintuplicou entre 2000 e 2010, passando de US$ 4 bilhões para US$ 20 bilhões.
O banco salienta o papel do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) nessa relação: em 2008, o banco emprestou US$ 477 milhões (R$ 838 milhões) a empresas brasileiras com operações na África; em 2010, o valor subiu para US$ 649 milhões (R$ 1,14 bilhão).
Essas companhias, afirma o relatório, estão presentes em quase todo o continente e atuam sobretudo nos setores de infraestrutura, energia e mineração.
Embora a operação dessas empresas na África tenha se tornado mais visível nos últimos anos, o documento diz que elas começaram a atuar no continente nos anos 1980, o que hoje as deixa em posição privilegiada.
Outro aspecto destacado pelo Banco Mundial é que as companhias brasileiras tendem a contratar trabalhadores locais em seus projetos, favorecendo sua capacitação profissional. Essa postura contrasta com a da China, que nos últimos anos tornou-se principal parceira econômica de muitos países africanos, mas às vezes é contestada por empregar majoritariamente operários chineses em seus empreendimentos no continente.
O Banco Mundial também cita o papel desempenhado por pequenas e médias empresas brasileiras na África. Segundo o relatório, numa feira de negócios em São Paulo em abril de 2010, companhias brasileiras e africanas fecharam acordos de US$ 25 milhões nos setores de bebidas, alimentos, roupas, calçados, automóveis, eletrônicos, construção e cosméticos.
Programas de cooperação
Além da aproximação comercial, o relatório trata da crescente cooperação entre Brasil e nações africanas nos setores de agricultura, saúde, energia, proteção social e capacitação profissional.
O banco afirma que, graças a características geofísicas comuns (como clima e tipos de solo), a tecnologia brasileira costuma se adaptar a muitas regiões africanas. Diz ainda que sucessos recentes do Brasil nos campos social e econômico atraíram a atenção de muitos países na África, além dos lusófonos com quem o Brasil tem conexões históricas.
O relatório cita parcerias entre os governos do Brasil e de países africanos para o tratamento de HIV/Aids, malária e anemia falciforme e diz que a experiência brasileira em proteção social está sendo adaptada e replicada no Quênia, Senegal e em Angola.
Ainda assim, afirma que, como esses projetos começaram há menos de dez anos, é difícil mensurar seus resultados.
"No entanto, em muitos casos, resultados iniciais têm sido positivos, destacando o potencial para uma relação mais sólida e de longo prazo", conclui o Banco Mundial.
- Com agencias de notícias