Os bancos estatais brasileiros mais que dobraram seus empréstimos desde o início da crise mundial, em setembro de 2008. Nesses três anos, o saldo das carteiras do BB, Caixa Econômica e BNDES, entre outros, cresceu 123%; a banca privada registrou um avanço bem mais modesto no período: 55%.
O pressuposto que orientou a contração dos empréstimos, e que levaria a uma dramática recessão não fosse o contrapeso da liquidez estatal, foi uma avaliação de risco que se revelou errada.
Em vez de aumentar, como previam os altos executivos dos bancos privados, a inadimplência, segundo informa o jornal Valor desta 5ª feira, diminuiu no período.
No caso do BNDEs, por exemplo, o maior banco estatal de desenvolvimento do Ocidente, alvo permanente da fuzilaria ortodoxa pelos critérios desenvolvimentistas de suas liberações, a taxa de inadimplência acima de 90 dias é de irrisórios 0,12%.
Na média,a inadimplência no sistema financeiro estatal é hoje inferior à metade da registrada nas corporações de crédito privadas, 2,1% e 4,8%. Resumindo, na decisiva artéria do crédito à economia, os bancos estatais reagem mais depressa e com maior acerto diante de uma crise; dispõem de analistas de conjuntura mais competentes e administram com maior eficácia o risco da inadimplência.
Uma das perguntas que a crise grita aos ouvidos da esquerda brasileira e mundial que até agora fez ouvidos moucos a ela argui precisamente isso.
Por que uma área tão importante quanto o fornecimento do crédito à economia deve permanecer predominantemente em mãos particulares se quando a sociedade mais precisa dela ouve um esférico 'salve-se quem puder'?
Sobretudo numa Europa agônica, cuja economia encontra-se travada pelo espectro do esfarelamento bancário que só respira a custa de gigantesca transfusão de meio trilhão de euros dos contribuintes, a juros de pai para filho de 1% ao ano por que a estatização do setor financeiro continua ausente do discurso da esquerda?
- Com Carta Maior