domingo, 11 de dezembro de 2011

TUCANOS SE COMPLICAM APÓS LANÇAMENTO DE LIVRO SOBRE ESQUEMA DE CORRUPÇÃO NO GOVERNO FHC


PRIVATARIA TUCANA REVELA ESQUEMA BILIONÁRIO DE CORRUPÇÃO

 
A situação nacional do maior partido da direita brasileira, o PSDB, fica ainda mais complicada diante do lançamento de A Privataria Tucana, livro do jornalista Amaury Ribeiro Junior. Disponível nas livrarias desde a noite passada, a obra reúne, em 343 páginas, todo o processo de privatização realizado ao longo do governo de Fernando Henrique Cardoso, nos anos 90, que dilapidou patrimônios públicos como a Vale do Rio Doce e a Companhia Siderúrgica Nacional. O livro revela, ainda, documentos inéditos sobre a transferência de bilhões de reais para esquemas de lavagem de dinheiro e pagamentos de propina aos altos escalões da República. O ex-governador de São Paulo, José Serra, que também é do PSDB, assim como o então presidente Fernando Henrique Cardoso são citados como cúmplices no ciclo de corrupção.
– “O livro tem sido, de longe, o mais vendido aqui, até agora.”, resume um funcionário de uma das maiores livrarias na Zona Sul do Rio de Janeiro.
Amaury Jr. já previa que a compilação dos documentos reunidos em A Privataria Tucana renderia no conteúdo explosivo que os jornais conservadores ainda tentam abafar. Apenas um comentário, do ex-presidente FHC, foi consignado na edição deste sábado do diário conservador paulistano Folha de S. Paulo. Nele, o acusado de deixar passar um dos maiores crimes já cometidos contra o patrimônio público brasileiro preferiu apenas descredenciar o autor das denúncias. Citado como um dos vilões no episódio, o candidato tucano derrotado nas eleições presidenciais do ano passado, novamente preferiu o silêncio.
– “Ficou bem claro durante as eleições passadas que Serra tinha medo de esse meu livro vir à tona. Quando se descobriu o que eu tinha em mãos, uma fonte do PSDB veio me contar que Serra ficou atormentado, começou a tratar mal todo mundo, até jornalistas que o apoiavam. Entrou em pânico.”, disse o jornalista à revista Carta Capital, em uma entrevista que reproduzimos a seguir.

Lavagem de dinheiro
À revista Carta Capital, Amaury revela que decidiu investigar o processo de privatização no governo Fernando Henrique Cardoso quando ainda era repórter do diário conservador carioca O Globo, nos idos de 2000.
– “Antes, minha área da atuação era a de reportagens sobre direitos humanos e crimes da ditadura militar. Mas, no início do século, começaram a estourar os escândalos a envolver Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-tesoureiro de campanha do PSDB e ex-diretor do Banco do Brasil. Então, comecei a investigar essa coisa de lavagem de dinheiro. Nunca mais abandonei esse tema. Minha vida profissional passou a ser sinônimo disso.”.
– “Quem lhe pediu para investigar o envolvimento de José Serra nesse esquema de lavagem de dinheiro?”.
– “Quando comecei, não tinha esse foco. Em 2007, depois de ter sido baleado em Brasília, voltei a trabalhar em Belo Horizonte, como repórter do diário conservador mineiro Estado de Minas. Então, me pediram para investigar como Serra estava colocando espiões para bisbilhotar Aécio Neves, que era o governador do Estado. Era uma informação que vinha de cima, do governo de Minas. Hoje, sabemos que isso era feito por uma empresa a Fence, contratada por Serra, conforme eu explico no livro, que traz documentação mostrando que foi usado dinheiro público para isso.”.
– “Ficou surpreso com o resultado da investigação?.”.
– “A apuração demonstrou aquilo que todo mundo sempre soube que Serra fazia. Na verdade, são duas coisas que o PSDB sempre fez: investigação dos adversários e esquemas de contrainformação. Isso ficou bem evidenciado em muitas ocasiões, como no caso da Lunus que derrubou a candidatura de Roseana Sarney, então do PFL, em 2002 e o núcleo de inteligência da Anvisa montado por Serra no Ministério da Saúde, com os personagens de sempre, Marcelo Itagiba ex-delegado da PF e ex-deputado federal tucano à frente. Uma coisa que não está no livro é que esse mesmo pessoal trabalhou na campanha de Fernando Henrique Cardoso, em 1994, mas sob o comando de um jornalista de Brasília, Mino Pedrosa. Era uma turma que tinha também Dadá, Idalísio dos Santos, araponga da Aeronáutica e Onézimo Souza, ex-delegado da PF.”.
– “O que você foi fazer na campanha de Dilma Rousseff, em 2010?”.
– “Um amigo, o jornalista Luiz Lanzetta, era o responsável pela assessoria de imprensa da campanha da Dilma. Ele me chamou porque estava preocupado com o vazamento geral de informações na casa onde se discutia a estratégia de campanha do PT, no Lago Sul de Brasília. Parecia claro que o pessoal do PSDB havia colocado gente para roubar informações. Mesmo em reuniões onde só estavam duas ou três pessoas, tudo aparecia na mídia no dia seguinte. Era uma situação totalmente complicada.”.
– “Você foi chamado para acabar com os vazamentos?”.
– “Eu fui chamado para dar uma orientação sobre o que fazer, intermediar um contrato com gente capaz de resolver o problema, o que acabou não acontecendo. Eu busquei ajuda com o Dadá, que me trouxe, em seguida, o ex-delegado Onézimo Souza. Não tinha nada de grampear ou investigar a vida de outros candidatos. Esse “núcleo de inteligência” que até Prêmio Esso deu nunca existiu, é uma mentira deliberada. Houve uma única reunião para se discutir o assunto, no restaurante Fritz, na Asa Sul de Brasília, mas logo depois eu percebi que tinha caído numa armadilha.”.
–“Mas o que, exatamente, vocês pensavam em fazer com relação aos vazamentos?.”.
– “Havia dentro do grupo de Serra um agente da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) que tinha se desentendido com Marcelo Itagiba. O nome dele é Luiz Fernando Barcellos, conhecido na comunidade de informações como “agente Jardim”. A gente pensou em usá-lo como infiltrado, dentro do esquema de Serra, para chegar a quem, na campanha de Dilma, estava vazando informações. Mas essa ideia nunca foi posta em prática.”.
– “Você é o responsável pela quebra de sigilo de tucanos e da filha de Serra, Verônica, na agência da Receita Federal de Mauá?”.
– Aquilo foi uma armação, pagaram a um despachante para me incriminar. Não conheço ninguém em Mauá, nunca estive lá. Aquilo faz parte do conhecido esquema de contrainformação, uma especialidade do PSDB.
– “E por que o PSDB teria interesse em incriminá-lo?”.
– “Ficou bem claro durante as eleições passadas que Serra tinha medo de esse meu livro vir à tona. Quando se descobriu o que eu tinha em mãos, uma fonte do PSDB veio me contar que Serra ficou atormentado, começou a tratar mal todo mundo, até jornalistas que o apoiavam. Entrou em pânico. Aí partiram para cima de mim, primeiro com a história de Eduardo Jorge Caldeira, vice-presidente do PSDB, depois, da filha do Serra, o que é uma piada, porque ela já estava incriminada, justamente por crime de quebra de sigilo. Eu acho, inclusive, que Eduardo Jorge estimulou essa coisa porque, no fundo, queria apavorar Serra. Ele nunca perdoou Serra por ter sido colocado de lado na campanha de 2010.”.
– “Mas o fato é que José Serra conseguiu que sua matéria não fosse publicada no Estado de Minas...”.
– É verdade, a matéria não saiu. Ele ligou para o próprio Aécio para intervir no Estado de Minas e, de quebra, conseguiu um convite para ir à festa de 80 anos do jornal. Nenhuma novidade, porque todo mundo sabe que Serra tem mania de interferir em redações, que é um cara vingativo.

Daniel Dantas

As pistas deixadas por bilhões de reais movimentados nos esquemas fraudulentos revelados em Privataria Tucana, segundo Ribeiro Jr, levam ao banqueiro Daniel Dantas, condenado recentemente por uma série de crimes ligados à lavagem de dinheiro.
– “Esses tucanos deram uma sofisticação à lavagem de dinheiro. Eram banqueiros, ligados ao PSDB. Quem estava conduzindo os consórcios das privatizações eram homens da confiança do Serra. É um saque financeiro que eles fizeram da privatização brasileira. Eles roubaram o patrimônio do país, e eu quero provar que são um bando de corruptos. A grande força desse livro é mostrar documentos que provam isso – afirmou, em conversa com jornalistas de um portal da internet.”.
O livro detalha o esquema de corrupção que teria, no comando, amigos e parentes de Serra e de outros líderes da direita brasileira, alguns ainda no Democráticos (DEM) e no recém-fundado Partido da Social Democracia (PSD).
– “Há 20 anos, como diz o próprio livro, investido essas contas, rastreando tudo. Hoje sou um especialista em lavagem de dinheiro. O tesoureiro do Serra, o Ricardo Sérgio, criou um modus operandi para gerir o dinheiro no exterior e eu descobri como funcionava o esquema. Eles mandavam todo o dinheiro, da propina, tudo, para as Ilhas Virgens, que é um paraíso fiscal, e depois simulavam operações de investimento, nada mais era do que a internação de dinheiro. Usavam umas off-shores, que simulavam investir dinheiro em empresas que eram dele mesmo no Brasil, numa ação muito amadora. A gente pegou isso tudo.”, afirmou.
Amaury Jr. nega que tenha cooptado alguém para realizar escutas telefônicas:
- “Não teve quebra de sigilo, como me acusaram.”.
– “São transações que estão em cartórios de títulos e documentos. Quando você nomeia um cara para fazer uma falcatrua dessa, você nomeia um procurador, você nomeia tudo. Rastreando nos cartórios de títulos e documentos, a gente achou tudo isso aí. Não tem essa história de que investiguei a Verônica Serra, filha do ex-governador, que investiguei qualquer pessoa ou teve quebra de sigilo. A minha investigação é de pessoa jurídica. Meu livro coloca documentos, não tem quebra de sigilo, comprova essa falcatrua que fizeram.”, resume.
– “Segundo seu livro, esse esquema teria chegado a movimentar cifras bilionárias então?.”.
– Bilionárias, bilionárias. O esquema era realizado por)banqueiros ligados ao PSDB, formados na PUC do Rio de Janeiro e com pós-graduação em Harvard. A gente é muito simples, formado em jornalismo na Cásper Líbero, mas aprendi a rastrear o dinheiro deles. Eles inventaram um marco para lavar dinheiro que foi seguido por todos os criminosos, como Fernando Beira-Mar, Georgina de Freitas que fraudou o INSS, e eu, modestamente, acabei com esse sistema. Temos condenações na Justiça brasileira para esse tipo de operações. Os discípulos da Georgina foram condenados por operações semelhantes às que o Serra fez, que o genro dele, Alexandre Bourgeois fez, que o Gregório Marín Preciado fez, que o Ricardo Sérgio fez.”.
– “Está dito no seu livro que pessoas ligadas a Serra que teriam participado desse esquema?.”.
– Ricardo Sérgio, a filha Verônia Serra) o genro Alexandre Bourgeois, Preciado, o primo da mulher dele, e, acima, o banqueiro Daniel Dantas, o cara que comandava todo esse esquema de corrupção.”, crava.
No livro, Amaury Jr. afirma que faria parte das operações uma sociedade entre Verônica Serra, filha do ex-governador Serra, e Verônica Dantas, irmã de Daniel Dantas.
– “Conto como Verônica Serra e a Verônica Dantas se uniram para implementar um pagamento de propina muito evidente para o clã Serra. Inventaram essa sociedade entre elas em Miami. Quem investe nessa sociedade? Os consórcios que investiram e ganharam na privatização: o Opportunity, o Citibank. Eles que dão o dinheiro, está no site deles próprios. Em 2002, quando Serra era candidato a presidente do Brasil, o Dantas quis chantagear. Quem revelou isso aí? Fui eu, o jornalista investigativo? Foi a própria revista IstoÉ Dinheiro que revelou a sociedade de Dantas e o clã Serra. Porque ele tinha dificuldade em compor a Previ, do governo, do Banco do Brasil. Ele estava chantageando os tucanos para compor com ele. Veja como o Dantas é manipulador nessa história toda. Primeiro veio a matéria para justificar o dinheiro dessa corrupção, dizendo que a Verônica Dantas havia enriquecido porque era uma mártir das telecomunicações. Depois, veio uma matéria fajuta… Quando não o satisfazia, Dantas chantageou o Serra. Para compor com a Previ, que estava com problemas com a Telecom, naquele processo todo.”, relembra.
O jornalista afirma, ainda ter descoberto que a sociedade de Verônica Dantas e Verônica Serra “não acabou, como disseram. Foi para as Ilhas Virgens, sendo operada pelo Ricardo Sérgio”.
– “Para quê? Jogar dinheiro aonde? Para a própria filha do governador do Serra. Mapeei o fluxo do dinheiro, esses caras roubaram, receberam propina, e a propina está rastreada. O dia em que o Dantas deu a propina da privatização, peguei a ponta batendo no escritório da filha dele lá no bairro paulistano do Itaim-Bibi. O Dantas pagou pro Serra. A parte da propina do Serra está documentada.”, garante.
A propina seguia, então, das Ilhas Virgens para as contas dos donos do poder, naquela época, e quem conduzia o processo eram os consórcios das privatizações, diz o livro, “todos liderados por homens da confiança do Serra. O líder era o Ricardo Sérgio Oliveira. Foi caixa de campanha dele. Isso é um saque que eles fizeram da privatização brasileira.”.
– “Na condição de diretor internacional do Banco do Brasil, o Ricardo Sérgio assinou uma portaria que permitia a bancos brasileiros possuir contas em bancos correlatos no Paraguai, e vice versa. Essa medida tinha como pretexto facilitar a movimentação de dinheiro dos brasileiros que possuem comércio no Paraguai. No entanto, se transformou no maior duto para lavagem de dinheiro. Em vez do dinheiro vir para o Brasil, os doleiros passaram a usar esse mecanismo pra mandar todo o dinheiro para uma agência do Banestado em Nova York. Pode-se dizer que Ricardo Sérgio atuou nessa ponta da lavanderia do Banestado.”, disse.
E continuou:
- “Segundo ponto: Ricardo Sergio foi o grande artesão dos consórcios das empresas de telecomunicações durante as privatizações, no governo FHC. Ele conseguia manipular a formação dos grupos porque controlava o Fundo de Previdência dos funcionários do Banco do Brasil (Previ), e decidia a forma como o Previ participaria dos consórcios. Ele conseguia isso porque o presidente do Fundo era um aliado dele, o João Bosco Madeiro da Costa.”.
– “Por fim, Ricardo Sérgio criou a metodologia de usar as offshores nas Ilhas Virgens Britânicas, principalmente no Citco. Essas offshores eram usadas pra internar trazer de volta ao Brasil dinheiro que saiu ilegalmente do país, por meio de uma rede de doleiros.”.
Quem indicou Ricardo Sergio para o Banco do Brasil, segundo Amaury Jr., foi Clovis Carvalho, homem muito próximo de FHC e que foi ministro da Casa Civil e Serra.”.

Fogo amigo

De acordo com o livro, o jogo pesado nas eleições também estava presente na equipe de campanha da presidenta Dilma Rousseff. O vazamento de informações sigilosas de dentro do comitê da candidata, segundo Amaury Jr., era uma ação coordenada de dentro do próprio partido.
– “Eu achava que era coisa do ex-delegado federal Marcelo Itagiba ou do candidato a vice-presidente, deputado do PMDB, Michel Temer. Aí vem a surpresa: era o fogo-amigo do PT. Do Rui Falcão, atual presidente do PT e deputado estadual.”, acusa.
O episódio rendeu ao autor de A Privataria Tucana um processo, ao qual responde na Polícia Federal, em que é acusado pela quebra do sigilo fiscal da filha de Serra para um suposto dossiê encomendado pela equipe de campanha da atual presidenta.
– “Claro. Por quê? Quebra de sigilo fiscal. É um crime administrativo que só se imputa a funcionário público. O inquérito todo da Polícia Federal é uma fraude, não tem foco. Foi aberto para apurar quebra de sigilo fiscal e abrange tudo. Nunca vai atingir a mim. Mas precisavam ter um herói, e me jogar para o público. A imprensa conservadora queria o último factoide para jogar sobre a Dilma no segundo turno. O que fizeram? Deturpar meu depoimento na Polícia Federal. Eu nunca disse que quebrei sigilo de nenhuma pessoa, mas o cara da Folha de S. Paulo disse, ele deturpou, induziu todo mundo a dizer que confessei ter quebrado o sigilo fiscal. Ele mentiu sobre um depoimento na Polícia Federal, e a mídia toda espalhou isso. Era a única arma dessa imprensa carrasca, que mostrou seu lado. Eu nunca disse isso, meus quatro depoimentos são coerentes, têm uma lógica. A imprensa foi bandida – aponta.”.

Sem resposta

Procurado pelo Correio do Brasil, neste sábado, o ex-governador paulista José Serra não atendeu às ligações. Já o ex-presidente FHC, questionado em uma entrevista na FSP sobre os relatos feitos por Amaury Jr. preferiu desqualificar o jornalista.
– “O autor desse livro está sendo processado. Está na Polícia Federal PF. Até lá, quem está sub judice é ele.”, disse.
FHC aproveitou para defender Ricardo Sérgio, ex-diretor do Banco do Brasil, citado por Amaury no livro como o grande operador do esquema de corrupção.
– “Eu não tenho nada que o desabone.”, afirmou.
Outro tucano, cotado para concorrer à Presidência da República nas eleições de 2014, o senador Aécio Neves também preferiu não comentar a obra na qual é citado pelo autor.
– “Eu não li ainda, quando eu ler eu comento com vocês – concluiu, em conversa com repórteres em Salvador, onde esteve na noite passada, para uma série de compromissos partidários.”.

- Com Correio do Brasil

EUA E CHINA CONCORDAM COM ACORDO PARA REDUZIR EMISSÕES

A presidente da COP17, Maite Nkoana-Mashabane e a secretária executiva da ONU sobre o clima, Christina Figueres – Foto: Rogan Ward

Conferência de Durban, na África do Sul, terminou com 36 horas de atraso por dificuldades na negociação. Novo tratado mundial só entrará em vigor em 2020
Os representantes de 194 países aprovaram no domingo, 11 de dezembro na conferência sobre o clima de Durban, na África do Sul, a COP17, um inédito caminho para um acordo global em 2015 destinado a reduzir as emissões de gases que provocam o efeito estufa. Formou-se um grupo de trabalho, chamado de Plataforma de Durban, que vai desenvolver um protocolo ou um instrumento legal de comprometimento de todos os países para cortar as emissões. É a primeira vez que os Estados Unidos e a China, os maiores poluidores do mundo, concordam com um acordo legal neste sentido. A natureza jurídica do acordo ainda será discutida, para que ele entre em vigor até 2020. 
 O alívio era visível entre os representantes reunidos para a conferência, que esteve à beira do fracasso, após quatorze dias e duas madrugadas extra de negociações. “Em homenagem a Mandela: isto parecia impossível, até que foi conseguido. E foi conquistado!”, escreveu no Twitter Christiana Figueres, principal nome da ONU para a questão do clima. A conferência de Durban terminou com 36 horas de atraso por causa da dificuldade de negociação entre os países.
 A União Europeia teve de aceitar ao fim da reunião um texto que deixa em aberto o caráter obrigatório do futuro pacto climático. Conseguiu, no entanto, impor suas diretrizes às potências emergentes e aos EUA para alcançar esse segundo acordo global. A intenção da União Europeia é fazer um novo Protocolo de Kyoto, que expira em 2012 e que agora se prolongará até 2017 ou 2020. Canadá, Japão e Rússia decidiram ficar de fora desse novo acordo. 
 Kyoto é o único instrumento jurídico vinculante que limita as emissões de gases que provocam o efeito estufa da maioria dos países ricos. Os países em desenvolvimento, que estão isentos do protocolo, respaldam com firmeza o documento, pois ele divide do resto do planeta os países do norte, que têm uma responsabilidade histórica no acúmulo de CO2 na atmosfera. O Protocolo de Kyoto, que foi assinado em dezembro de 1997, entrou em vigor em fevereiro de 2005 e impõe aos países ricos, com a grande exceção dos Estados Unidos, a redução das emissões de seis substâncias responsáveis pelo aquecimento global.
 A conferência aprovou ainda a implantação do mecanismo de funcionamento de um Fundo Verde, destinado a ajudar os países em desenvolvimento ante o aquecimento global. O objetivo da comunidade internacional é limitar o aumento da temperatura global a mais 2 graus Celsius. A soma das promessas dos vários países em termos de redução de emissões está longe, no entanto, de alcançar a meta. Segundo um estudo apresentado esta semana em Durban, o mundo está a caminho de um aumento de 3,5 graus Celsius na temperatura global.

Quase colapso

A ONG Oxfam criticou duramente os resultados da reunião e afirmou que os negociadores evitaram por pouco um colapso do processo ao alcançar um acordo sobre “o estrito mínimo possível”. A ministra sul-africana das Relações Exteriores, Maite Nkoana-Mashabane, que presidiu a conferência, admitiu, desde o início da sessão plenária, à noite, que o pacote de decisões sobre a mesa “não era perfeito”, mas defendeu que era necessário “não deixar que a perfeição seja inimiga do bom”. 
O próximo encontro sobre o clima acontecerá no Qatar, o maior emissor de gás carbônico per capita do mundo. 

- Com agências de notícias