domingo, 14 de agosto de 2011

A CRISE DO FIM DO MUNDO

Maurício Siaines

Em 9 de julho de 2011 constituiu-se, depois de mais de 50 anos de guerra civil, o que talvez seja o mais novo país soberano do planeta, o Sudão do Sul, no nordeste da África, tendo como língua oficial o inglês, com uma população aproximada de pouco mais de 8 milhões de habitantes, vivendo em 644.329 km2 , área pouco maior que a do estado de Minas Gerais, que tem mais do dobro de habitantes. É cortado pelo rio Nilo, que corre de sul para norte, indo desaguar no Mar Mediterrâneo.
Com riquezas como petróleo, gás natural e diversos minerais, é um país de florestas, com grande biodiversidade, diferente da desértica República do Sudão, ao norte. Vários povos antigos compuseram o país que passou a domínio do Império Britânico no século XIX. O saldo que ficou é um quadro de muitas doenças e quase nada de serviços básicos de água, energia elétrica, comunicações, saúde, educação e transportes.
É possível imaginar a existência no Sudão do Sul de um cidadão de 80 anos, com 25 ao final da dominação britânica, que tenha estudado na Inglaterra. Ele poderia ter conhecido ideias de Adam Smith (1723-1790), Karl Marx (1818-1883) e John Maynard Keynes (1883-1946). Com esse arcabouço de vivências e saberes europeus e africanos, localizado em um ponto do planeta tão distante de onde se tomam decisões, o que pensaria sobre a crise econômica que se abate sobre o mundo centrado na Europa e na América do Norte, acossado agora pela China? Como interpretaria desde seu ponto de vista africano o que está para acontecer em escala global?
Já houve época em que os desejosos e esperançosos de um mundo diferente e solidário tentavam ver nessas crises do capitalismo mundial a última, a final, que ensejaria a reconstrução do mundo em outras bases. Hoje parece certo que o hiato entre o desmonte e a reconstrução teria um custo muito elevado. Ninguém pode saber ao certo para onde a loucura levará o planeta.
Na última segunda-feira, 8 de agosto, as bolsas de valores de todo o mundo tiveram grandes quedas e o dólar subiu. O dinheiro correu das bolsas para os títulos do Tesouro dos Estados Unidos, lastro da moeda americana. Depois, o investimento voltou para as bolsas. E se, em virtude da crise da dívida pública nos EUA, não for mais possível correr para o dólar? Há quem aposte que isto ocorrerá em breve, com uma quebradeira geral. Ironicamente, se isto acontecer, talvez o Sudão do Sul — vítima de todo o processo de desenvolvimento do capitalismo — se torne um dos melhores lugares para se viver.
- Maurício Siaines é jornalista e mestre em sociologia

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