No Jardim Ouro Preto observa-se que boa parte dos moradores se encontra em uma situação um tanto quanto preocupante. Quem mora nas ruas localizadas na parte de cima do bairro vive sob o risco do rolamento de pedras sobre as residências. Já aqueles que têm casas próximas ao Rio Bengalas convive com as iminentes enchentes que costumam atingir o município durante o verão.
Morador da Rua Santa Martha, o aposentado José Carlos revela que desde o 12 de janeiro a comunidade vive com medo de uma nova catástrofe. Isto acontece porque no final da rua há diversas pedras em meio à vegetação, sendo que a maior delas pesa cerca de 2.500 toneladas e possui volume de cerca de 850 metros cúbicos. “Desde que moro aqui ela está no mesmo lugar. O que acontece é que agora uma boa parte de terra que ficava embaixo dela deslizou e as pedras menores que ficavam em volta cederam”, explica. De acordo com ele, por diversas vezes funcionários da Defesa Civil foram até o local, mas até o momento nenhuma providência havia sido tomada. “Muitos moradores já deixaram suas casas. Se começar a chover temos que procurar algum refúgio. Quem mora em uma área de risco como essa tem que estar prevenido para uma situação de emergência”, diz José Carlos.
De acordo com ele, tendo em vista a preocupação gerada pelas pedras, outros problemas do bairro ficaram em segundo plano. “O comércio é bom. Para chegar até aqui os moradores pegam o ônibus do Santo André ou do Jardinlândia, que passam pela Avenida dos Ferroviários [que corta o bairro]. Estamos a cinco minutos de carro da UPA [Unidade de Pronto Atendimento, em Conselheiro Paulo] e do Hospital Raul Sertã [no Centro]”, comenta. “A vida aqui no Jardim Ouro Preto é muito boa. O bairro é muito bom de viver. Mas, hoje, infelizmente, não são apenas os moradores da Rua Santa Martha que estão com medo, mas moradores de diversos outros pontos, como na Rua Epitácio Pessoa, que também sofre com o mesmo problema”, afirma.
Quem compartilha sua opinião é Edna Luiz de Oliveira. Sua casa, localizada no Loteamento Três Irmãos, foi destruída em 12 de janeiro. Desde então, ela vive com sua família no bairro. Após ter vivenciado de perto os efeitos da tragédia, ela indaga se será preciso passar por tudo novamente. “Estamos com muito medo. Não quero ter que passar por tudo isso de novo. Vieram vários funcionários da Defesa Civil e nos avisaram que quando forem mexer nessa pedra maior teremos que ficar um mês fora de casa. Mas, para onde nós iremos?”, questiona.
Problemas também em outras partes do bairro
Já na Rua Gonçalo Ribeiro, que também convive com a sombra das pedras, os moradores criticam as constantes crateras que estão se abrindo ao longo da via. “Esse é um problema antigo. Com o buraco meu filho ficou impedido de guardar seu carro na garagem. Isso sem contar que as crateras impedem a passagem dos caminhões de lixo”, conta o morador José Jorge Gregório. Segundo ele, o Jardim Ouro Preto é um lugar de bastante tranquilidade, entretanto, falta uma área de lazer para os jovens. “As crianças jogam bola no meio da rua, improvisando as balizas. Não há nenhum campinho para jogarem futebol”, informa. A respeito de outros serviços ele garante que todos estão sendo bem prestados. “Quanto à ronda policial e iluminação pública não temos do que reclamar”, completa.
Aparentemente livre dos efeitos que o possível rolamento das pedras da parte alta do bairro pode causar, quem mora do outro lado da Avenida dos Ferroviários convive com outro problema: as enchentes. E a situação não atinge apenas os moradores, mas também os comerciantes. O proprietário de uma loja de malhas localizada às margens do Rio Bengalas revela que na tragédia do início do ano teve um prejuízo avaliado em R$ 350 mil. “Perdi oito toneladas de tecido”, recorda. “Coloquei comportas de um metro e meio de altura para ver se quando houver outra enchente não levo outro prejuízo como esse. Mas isso é só São Pedro que vai poder dizer”, brinca.
No entanto, o comerciante fala sério quando questionado se alguma providência foi tomada desde janeiro. “Estamos num completo abandono. Não foi feito absolutamente nada, nenhuma dragagem do rio, nada. Estou nessa rua há 19 anos e essa foi a segunda vez que meu estabelecimento foi atingido. E olha que a minha loja se localiza muito acima do nível da rua”, comenta.
Se, por um lado, o Jardim Ouro Preto não foi dos bairros mais atingidos na tragédia, por outro os moradores se mostram temerosos e esperam ações urgentes para que não ocorra no local o mesmo que aconteceu em diversos outros pontos de Nova Friburgo.
MP quer solução para as pedras que ameaçam rolar sobre o bairro num prazo máximo de 45 dias
Conforme publicado na edição da última quarta-feira, 9, de A VOZ DA SERRA, a 1ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de Nova Friburgo ajuizou Ação Civil Pública requerendo que o município de Nova Friburgo e o Estado do Rio de Janeiro promovam o imediato desmonte do bloco rochoso—matacão (equivalente a um prédio de dois andares)—que ameaça a vida de centenas de moradores do Jardim Ouro. Segundo a matéria, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) requer ainda que seja feito o desmonte ou a fixação das outras rochas menores em um prazo máximo de 45 dias, sob pena de multa diária de R$ 5 mil em caso de descumprimento.
Segundo a ação, o MPRJ requer ainda a construção de um sistema de drenagem superficial na encosta situada nas ruas Santa Martha e Epitácio Pessoa. De acordo com a matéria publicada nesta quarta, no inquérito que instrui a ação constam relatórios de vistoria do Departamento de Geotecnia da Emop, que registra “uma instabilidade de alto risco e de grande poder destrutivo com alcance e trajetória imprevisíveis, podendo atingir dezenas de casas”. Também é citado estudo do Serviço Geológico do Brasil, concluindo que o matacão gigante “confere risco elevado, uma vez que a drenagem contorna o bloco provocando erosão na sua base e aumenta sua instabilidade”.
No processo consta um documento da Coordenadoria de Defesa Civil de Nova Friburgo, que afirma que “devido às dimensões do bloco, sua consistência, altura em que se encontra, ele possui grande poder destrutivo, e, devido à densidade demográfica local, constitui-se num risco muito alto”. Os promotores de Justiça afirmam que desde o recebimento dos laudos, o MP realizou diversas reuniões com órgãos responsáveis do Estado e do município, e até mesmo com o chefe do Executivo municipal, não tendo obtido êxito em alcançar solução do problema na via administrativa.
- Com AVS
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