segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

REVOLUÇÕES E FORÇAS SOCIAIS


O trecho abaixo parece falar do Brasil atual e da descrença generalizada que se volta para os políticos.
“Alguns fatos ruidosos de corrupção descobertos ao acaso haviam alertado a nação de que outros escondidos existiriam por toda parte, convencendo-a de que toda a classe governante estava corrompida e inspirando-lhe por essa classe um desprezo tranquilo, o qual era tomado como uma submissão confiante e satisfeita.”
Embora faça pensar em nossa situação atual, o texto se refere às condições que antecederam a Revolução de 1848, na França e seu autor, Alexis de Tocqueville, é contemporâneo daqueles acontecimentos e analisou-os no calor de sua presença, em seu livro Lembranças de 1848. Estava longe de ser um revolucionário, era ligado aos Bourbons, família que governou a França até a revolução de 1789 e também um pouco depois. Os adversários, no meio da nobreza eram os Orleans, de que fazia parte o rei Luís Felipe, no poder desde 1830, derrubado pela Revolução de 1848. Suas interpretações dos acontecimentos são de muita argúcia e suas observações precisam ser levadas em conta, como a que segue.
“É uma perda de tempo procurar conspirações secretas que tenham produzido acontecimentos dessa espécie, pois as revoluções que se realizam pela emoção popular são em geral mais desejadas que premeditadas. Aquele que se jacta de tê-las maquinado nada mais faz que dela tirar partido. As revoluções nascem espontaneamente de uma doença geral dos espíritos, induzida de repente ao estado de crise por uma circunstância fortuita que ninguém previu; quanto aos pretensos inventores ou condutores dessas revoluções nada inventam ou conduzem; seu único método é o dos aventureiros que descobriram a maior parte das terras desconhecidas: atrever-se a ir sempre em linha reta, para a frente, com o vento a favor.”
Ou seja, existem forças que atuam e modificam a situação política, independentemente de lideranças. Estas seriam consequências dos acontecimentos sociais. Karl Marx, em seu O 18 Brumário de Luís Bonaparte, analisando o mesmo momento histórico entende os legitimistas, que apoiavam os Bourbons, e os orleanistas, partidários dos Orleans, como o “partido da ordem” e observa que “Sob os Bourbons governara a grande propriedade territorial, com seus padres e lacaios; sob os Orleans, a alta finança, a grande indústria, o alto comércio, ou seja, o capital, com seu séquito de advogados, professores e oradores melífluos” e eles representavam nada mais que “suas condições materiais de existência, duas diferentes espécies de propriedade, era o velho contraste entre a cidade e o campo, a rivalidade entre o capital e o latifúndio.” Marx tenta entender neste livro o proletariado, a nova classe formada pelo desenvolvimento do capitalismo, e as possibilidades de sua ação, assim como o processo de usurpação da revolução proletária por Luís Bonaparte, sobrinho de Napoleão Bonaparte, que virá mais tarde a se tornar o segundo imperador da França com o título de Napoleão III.
Assistimos hoje pelo mundo afora, inclusive em Nova Friburgo, ao desenvolvimento daquilo que Tocqueville chamou de “doença geral dos espíritos”. Não sabemos como essa “doença” vai evoluir, mas podemos tentar entender as forças que movem esse processo a fim de saber que caminhos podem ser seguidos pelos acontecimentos.

- Maurício Siaines é jornalista e mestre em sociologia

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