segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

TSE CONFIRMA REJEIÇÃO À DIVISÃO DO PARÁ EM TRÊS ESTADOS


QUASE 70% DOS ELEITORES FORAM CONTRA A CRIAÇÃO DE CARAJÁS E TAPAJÓS EM PLEBISCITO HISTÓRICO. ÍNDICE DE ABSTENÇÃO SUPEROU OS 25% 

Eleitores participam do plebiscito histórico, em que estava em jogo a divisão do estado do Pará em três - Foto Reuters

 

Os eleitores paraenses decidiram, em plebiscito realizado neste domingo, manter o estado do Pará com o território original, informou o presidente do Tribunal Regional Eleitoral, Ricardo Nunes.
-Neste momento, o total dos votos apurados e, diante do cenário atual, matematicamente, os eleitores do estado do Pará decidiram pela não divisão - afirmou o presidente do TRE paraense.
O resultado foi ratificado pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Ricardo Lewandowski, que comemorou:
- Penso que não apenas a cidadania está madura do ponto de vista cívico, mas a tecnologia eleitoral brasileira está muito avançada, conseguimos apurar o resultado matematicamente consolidado em duas horas depois do fechamento das urnas. Hoje foi um teste importante e verificou-se que o povo pode ser consultado rapidamente de forma eficiente e econômica.
Às 22h20 (horário de Brasília), com 99,07% das urnas apuradas, o resultado parcial indicava que 66,54% escolheram "não" para a criação do estado de Carajás e 66,30% rejeitaram a criação do estado de Tapajós. Haviam sido apuradas 14.117 das 14.249 urnas do estado. A abstenção foi 25,6%. Do total apurado, pouco mais de 1% era de votos nulos e 0,4% de brancos. Foram contabilizados os votos de 4,8 milhões de eleitores (99,26%). Com a decisão das urnas, o trâmite para a divisão do estado se encerrou junto com o plebiscito. Dessa forma, a Assembleia Legislativa paraense e o Congresso Nacional não precisarão analisar a divisão do território e criação dos novos estados.
Em Belém, a população votou maciçamente contra a divisão do estado. Com 99,96% dos votos apurados, 94,87% dos eleitores da capital haviam votado contra Carajás e 93,88% contra Tapajos. Apenas cerca de 11% escolheram dividir o estado. Nas áreas separatistas, o eleitor votou pela divisão. Em Santarém, 98,63% votaram pela criação do estado de Tapajós e 97,78% pela criação de Carajás. Em Marabá, 93,26% dos eleitores votaram sim para Carajás e 92,93% para Tapajós.
Com a decisão das urnas, o trâmite para a divisão do estado se encerrou junto com o plebiscito. Dessa forma, a Assembleia Legislativa paraense e o Congresso Nacional não precisarão analisar a divisão do território e criação dos novos estados.
O Ministério Público Eleitoral (MPE) do Pará contabilizou cerca de 20 denúncias de irregularidades durante todo o plebiscito. De acordo com o procurador regional eleitoral do Pará, Daniel Cesar Azeredo Avelino, ninguém foi preso.
O plebiscito deste domingo, que decidiria se o Pará deve ser dividido em três para a criação de mais dois estados - Tapajós e Carajás - custou até agora R$ 19 milhões aos cofres públicos, quantia inferior aos R$ 25 milhões inicialmente previstos. A informação foi dada pela manhã pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Ricardo Lewandowski, que foi ao estado acompanhar a apuração das urnas. Algumas das urnas do estado haviam apresentado problemas e apenas em Belém foi apreendido material irregular. As urnas foram fechadas às 17h, horário local.
Os eleitores responderam a duas perguntas: a primeira, se eles são a favor ou contrários à criação do estado do Tapajós. Em seguida, votam a favor ou não da criação do estado de Carajás. Ou seja, em tese, era possível votar pela criação de apenas um dos estados, dividindo o Pará em dois. - Este plebiscito mostra que o povo, não só do Pará, mas de todo o pais, está extremamente consciente e cobra resultado das autoridades - disse Lewandowski, que visitou o colégio Paes de Carvalho, ao lado da sede do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Pará, onde funcionaram 14 seções.
O ministro do TSE visitou também o quartel do 8º Batalhão do Exército, no Pará, onde conheceu a sala de controle que acompanha, em tempo real, a movimentação das tropas no Estado. Dezesseis cidades do Pará receberam tropas do Exército para garantir a tranquilidade das eleições. O general Madeira, da 23ª Brigada de Infantaria de Selva, que ficou em Marabá - quarta cidade mais violenta do país - afirmou que não foram registrados incidentes. As longas distâncias dificultam o trabalho - de Araguaia do Sul a Oriximiná, por exemplo, são 2.038 km.
Durante o plebiscito, o major da 8ª Região Militar do Exercito, André Luiz Rodrigues Garcia, confiirmou que não foram registrados problemas durate a votação: - Graças a Deus, tudo está ocorrendo dentro da normalidade - afirmou o major.
Tamanho do estado não melhora gestão, diz eleitor
Em Belém, capital do estado, a votação do plebiscito transcorreu sem problemas. Na escola Augusto Meira, no bairro Guamá, uma das maiores zonas eleitorais da cidade, poucos eleitores manifestaram seus votos usando camisetas, bottons ou bonés. A empresária Lucienne Resque, de 37 anos, afirmou que não via motivos para dividir o Pará, a não ser interesse político.
- O governo pode instalar escritórios regionais em Marabá e Santarém, por exemplo. Hoje, com internet, não há motivo para que a sede do governo esteja perto. São Paulo também tem cidades distantes, como Presidente Prudente, mas nem por isso os políticos falam em separar - disse Lucienne (Presidente Prudente fica a 558 km da capital paulista).
- Se criar estados menores resolvesse problemas, Alagoas e Sergipe seriam os melhores estados do país para se viver. O que me chateou foi a geografia dos mapas. Tiraram as áreas de minério, hidrétricas e floresta. Deixaram para o Pará só açai e tucumã, uma fruta que só serve para dar aos porcos - afirmou o engenheiro Antonio Aurélio Bandeira Monteiro, 61 anos.
O plebiscito deste domingo no estado foi o primeiro do país a ser realizado com o propósito de criar novos estados. Mesmo com toda a importância que o plebiscito é para todo o estado do Pará, uma escola no bairro de Val-de-Cans, em Belém, só recebeu as urnas eletrônicas para o pleito na manhã deste domingo, faltando apenas uma hora para o início da votação.
Pará reúne mais de 4,8 milhões de eleitores
O Pará tem 4.842.286 eleitores. Segundo o último levantamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de outubro passado, 45,6% dos eleitores do estado são analfabetos ou não completaram o Ensino Fundamental - ou 2,2 milhões de pessoas. Apenas 19,23% dos que vão votar declararam que sabem ler e escrever (930.039). Do total, 3,29% dos eleitores cursaram ou estão cursando uma faculdade. Um quarto do total está cursando ou concluiu o Ensino Médio.
Apesar da baixo grau de instrução, o eleitor que vai decidir sobre o futuro do Pará é, em maioria, maduro. Predominam os eleitores entre 25 e 59, que correspondem a 66,05% dos votantes. Os jovens de até 24 anos de idade representam apenas 21,14% do total. Os idosos, com 60 anos ou mais, são minoria - apenas 12,81%, o que mostra que o baixo grau de escolaridade não é retrato de um Brasil antigo, mas atual e jovem, em com plena capacidade de desenvolvimento e trabalho.
- Esta não é uma eleição de quatro anos, que vai escolher pessoas para um período determinado. O plebiscito define o futuro do estado - diz o desembargador Ricardo Ferreira Nunes, presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Pará (TRE-PA).
Neste domingo, a Justiça Eleitoral proibiu a venda de bebida alcoólica e qualquer tipo de boca de urna, mas os eleitores podem revelar suas preferências de forma individual e silenciosa, usando bandeiras, broches e adesivos. A lei seca prevalece até o fim da votação, que se encerra às 17 horas (18 horas para estados como Rio de Janeiro e São Paulo, em razão do horário de verão).
O apoio das Forças Federais ocorreu em Marabá, Santarém, Altamira, Brasil Novo, Monte Alegre, Alenquer, Óbidos, Juruti, Oriximiná, Santana do Araguaia, São Félix do Xingu, Redenção, Tucumã, Pacajá, Anapú e Orilândia do Norte. Devido às longas distâncias, o TRE instalou 277 pontos de transmissão via satélite para agilizar a divulgação do resultado.
Após o plebiscito, Simão Jatene afirmou que conta com a compreensão do governo federal para tratar do pacto em defesa da principal questão do estado: os projetos de mineração, que extraem a riqueza do solo, mas não garantem recursos suficientes para melhorar a qualidade de vida da população.
Um dos integrantes mais ativos da frente contra a divisão do estado, o deputado estadual Celso Sabino (PR), disse que o Pará tem potencial enorme de crescimento, com hidrelétricas, reservas minerais e
ambientais. Segundo ele, nos próximos cinco anos, os investimentos no estado somarão R$ 130 bilhões.
— O momento é de união. Vamos abraçar essa causa (brigar o contra a Lei Kandir) juntos — disse.
Para o deputado Lira Maia (DEM), da Frente Pró-Tapajós, mesmo tendo sido curta, a campanha serviu para que a população reflita sobre a situação. Segundo ele, Tapajós recebeu apenas 5% dos recursos, realidade que terá de mudar.

- Com O Globo

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