Preciso ir até Itaboraí e tão logo o dia começa faço os preparativos para fazer esta viagem. Que de qualquer maneira, despretensiosa, necessita de certo planejamento devido ás vias que precisarei cruzar, os buracos que terei que desviar e ainda pensa que se voltar tarde da noite por algum contratempo, precisarei também de iluminação, o que será muito mais difícil se não tiver faróis potentes o suficiente que me iluminem o caminho de casa em segurança.
Me aproximo do município de Itaboraí, e reparo que algumas moças jovens distribuem ao longo da via de acesso panfletos, muito provavelmente de empreendimentos imobiliários, tais quais aqueles que surgirão onde resido em Maricá. O COMPERJ para Itaboraí soa para aquela população com um suspiro de renovação, já que se tornará um importante pólo petroquímico de interesse nacional, e talvez único no gênero. Afinal, faz tempo que o estado do Rio de Janeiro, na pessoa dos seus municípios, carece de investimentos pois não dispomos de outra atividade que não seja um turismo incipiente e agriculturas monoteístas de pouca notoriedade.
Olhando mais atentamente o panfleto recebido percebo que se trata de propaganda de hotéis e pousadas, com descontos para acompanhantes em horários diurnos, o que me causou certa estranheza, mas olhando mais atentamente e não sendo o público alvo da propaganda, vejo pelo pára-brisa que algumas das meninas, outras nem tão jovens suspendem ligeiramente a saia, já curta, na janela do motorista, ou levantam a blusa mostrando na verdade o produto que estão vendendo. Algumas permanecem no ponto, enquanto outras entram nos carros, com um sorriso que não consegui definir se era de contentamento ou de gratidão.
Esta história acontece todos os dias por todas as vias de acesso a Itaboraí, o índice de prostituição tem crescido aceleradamente, pela falta de oportunidade deste conhecido município de baixa renda e periférico. Não existe menosprezo nesta narrativa, apenas a evidencia que a falta de preparo dos municípios laterais e colaterais sofrerá diretamente o mesmo impacto. Isso se deve ao fato, da oferta ser menor que a procura o que barateia o valor do serviço. Que a prostituição é um fato, todos sabemos, ainda que não aceitemos isso prontamente, porém a falta de planejamento ocupacional, inclusive por empreendimentos que supostamente trarão progresso, não é uma certeza de qualidade de vida.
Maricá, se não planejar seus empreendimentos de qualquer natureza, terá que combater, de forma muito austera, a tendência crescente de facilidades que os canteiros de obras trarão de população masculina e impessoalmente descompromissada, ao mesmo tempo deve atentar que sua maior população é de caráter feminino. Se nada for feito, o índice de DSTs se propagará como uma praga, da mesma forma em que a população urbana aumentará, sem que haja um aumento de arrecadação, pois esta será diretamente proporcional ao aumento de renda e não ao contrário.
Passaremos de um problema social para um de saúde pública, com agravante a econômico, acabando por colapsar de forma incisiva toda a localidade e o próprio município. Não estarmos atentos a este tipo de intervenção é no mínimo negligente, e se pretendemos em algum momento participar de forma efetiva na condução do processo democrático em Maricá, este certamente é um assunto de pauta a ser discutido em qualquer reunião!
* Ana Paula de Carvalho - Movimento LUTO por Maricá
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