sábado, 29 de outubro de 2011

ENTREVISTA COM AFFONSO MONNERAT, SECRETÁRIO ESTADUAL DE RECONSTRUÇÃO SERRANA

Affonso Monnerat

Affonso Monnerat: - “É preciso muita união, trabalho, perseverança e conscientização para superarmos a tragédia.”.

A tragédia climática mudou a vida de toda a população da Região Serrana. A vida do então prefeito de Bom Jardim, Affonso Monnerat, também. Em meio à grande destruição ocorrida nos sete municípios serranos, inclusive na cidade governada por ele, o governador Sérgio Cabral o intimou a renunciar ao mandato em meio a uma grande popularidade na cidade vizinha, para assumir a Secretaria Extraordinária de Reconstrução Serrana, criada na oportunidade. Político de fala pausada e tranquila, Monnerat faz um balanço de sua atuação. Subordinado diretamente ao vice-governador e secretário estadual de Obras, Luiz Fernando Pezão, ele diz que ninguém pode esquecer a dimensão do evento climático e que não pretende criar falsas expectativas:
- “A CPI da Alerj, por exemplo, concluiu que, para recuperar a Região Serrana, para ela voltar ao que era antes da tragédia, é necessário mais de R$ 3 bilhões. Não tem fórmula mágica, não tem como resolver tamanha destruição em apenas um ou dois anos. Mas não vamos esmorecer nunca e estamos trabalhando muito, todos os dias, para buscar os recursos necessários para atender à grande demanda”, destaca. “Entendo também que é preciso muita união. Vamos enfrentar todas as críticas com serenidade, mas sem desistir. Temos um compromisso e vamos fazer tudo para quitar este compromisso com a população”, acrescenta.

Impaciência da população

- “Antes, só tinha conhecimento de Bom Jardim, onde eu era o prefeito. Desde o primeiro dia em que assumi a secretaria de Reconstrução Serrana visitei imediatamente os sete municípios e vi a magnitude da tragédia, da grande catástrofe de 12 de janeiro. Sempre falei:
- “É preciso ter muita paciência e perseverança, que não há como resolver tamanha destruição em apenas um ou dois anos. Não vamos criar ilusões e nem falsas expectativas para ninguém, porque estaríamos sendo irresponsáveis. A coisa foi muito grande. A CPI da Alerj, por exemplo, concluiu que para recuperar a Região Serrana, para ela voltar ao que era antes da tragédia, é necessário mais de R$ 3 bilhões. É natural que as pessoas pensem que tudo poderá ser resolvido rápido, mas não é assim. Sem recursos não vamos a lugar nenhum, não tem fórmula mágica. Não vamos esmorecer nunca e estamos trabalhando muito, todos os dias, para buscar os recursos necessários para atender à grande demanda. Entendo também que é preciso muita união. Vamos enfrentar todas as críticas com serenidade, mas sem desistir. Temos um compromisso e vamos fazer tudo para quitar este compromisso com a população. Agora, as pessoas também precisam ‘aprender’ a morar na Região Serrana, como, por exemplo, os chilenos e os japoneses aprenderam a enfrentar as suas tragédias. Estamos todos levando uma lição e é preciso aprender com ela. Cada um de nós também tem que se conscientizar do tamanho da gravidade do problema e agir mais conscientemente. A tragédia é um problema de todos nós e só iremos superar as adversidades com trabalho, união, perseverança e também, claro, com a conscientização de todos.”.

Socorro do BNDES

- “Na Região Serrana, sete cidades devastadas em 12 de janeiro, os R$ 400 milhões para socorrer o empresariado foram imediatamente utilizados e muitos não tiveram acesso ao crédito especial. O vice-governador, Luiz Fernando Pezão foi à presidente Dilma, que autorizou transferir para a Região Serrana créditos não captados em outras regiões do país, Sul e Nordeste, também atingidos por eventos climáticos. Em seguida, o Conselho Monetário Nacional (CMN) também deu a autorização necessária e a liberação é pra já. Se ainda não liberaram os créditos para os empresários interessados, isto acontecerá nos próximos dias.”.

Novos recursos

- “O vice-governador Pezão tem ’brigado’ muito em Brasília pela Região Serrana e o governo liberou mais R$ 320 milhões para projetos de dragagem, drenagem e recuperação de mais algumas encostas.”.

Casas populares

- “Identificamos duas áreas seguras em Nova Friburgo para a construção dos apartamentos. Foi feito o projeto conceitual dos dois locais, na Trilha do Céu e Oscar Schultz, e, depois, foi feito o chamamento público, através de edital, para que as empresas interessadas apresentassem seus projetos para escolhermos aquela que atenda aos melhores critérios de técnica, preço e prazo. Vamos construir imóveis bons e dignos, em menor tempo possível e logicamente pelo menor preço. O processo está agora na Caixa Econômica Federal e estamos fazendo uma grande pressão para que toda a burocracia seja resolvida rapidamente. Eu acredito que a liberação possa acontecer na primeira quinzena de novembro para que a empresa escolhida já esteja mobilizando a obra imediatamente. Estou muito confiante. Mas precisamos esclarecer que as casas populares são destinadas exclusivamente para as famílias que perderam seus imóveis na tragédia e este número exato está sendo concluído. Vamos ainda bater o número certinho. Inicialmente começaremos a construir os apartamentos no terreno escolhido na região da Trilha do Céu, em Conselheiro, supondo que será necessário utilizar, posteriormente, a área do Oscar Schultz para atender toda a demanda.”.

Aluguel social

- “O governo estadual está ciente de que vai ter que prorrogar o benefício por mais tempo [encerra-se em fevereiro, quando as casas populares ainda não estarão prontas]. A solução será incluir no orçamento estadual a prorrogação do aluguel social para que o benefício não seja interrompido. É importante ressaltar que, em Nova Friburgo, o aluguel social está recebendo questionamentos: tem gente que precisa e não está recebendo; outras famílias que não precisam, estão recebendo; e há situações de duplicidade de recebimento. Acho que o município deve se envolver mais para que estes questionamentos sejam resolvidos. Quando o aluguel social foi oferecido à população, estávamos em um momento diferente, de grande emergência. Agora, não. Há de ser feita uma peneira para corrigir todas as distorções. Há uma limitação enorme de recursos e não podemos desperdiçar nada. As pessoas que precisam do aluguel social precisam dele, mas aqueles que estão recebendo irregularmente, não podem continuar recebendo.”.

Encostas

- “As obras já começaram em quatro encostas, mas não é segredo que outras tantas encostas também precisam ser recuperadas. Já tem recursos disponíveis para fazermos mais quatro [todas em Conselheiro Paulino]. Os estudos técnicos delas demandaram um tempo maior e são obras mais complicadas. O governo estadual já obteve a liberação de recursos federais, mas teremos que discutir agora a forma em que os serviços destas obras serão contratados. Os órgãos fiscalizadores, de controle, apertam os gestores justificando que estão cumprindo integralmente a legislação, independente se a legislação é inteligente ou não. Às vezes, o Executivo fica sem saber como agir: se a contratação é feita por regime de urgência para fazer as coisas acontecerem mais rápido é taxado de não querer fazer licitação; por outro lado, se a contratação segue o ritmo normal, somos taxados de sermos lentos, de não estamos dando a devida atenção. Se a fórmula for o trâmite normal, as novas verbas liberadas agora [R$ 320 milhões para recuperação de encostas e dragagem de rios] só vão poder acontecer em março ou abril, depois do período de verão. É sempre um grande dilema, uma discussão eterna. A forma de contratação para as novas encostas está sendo decidida nas altas esferas do governo estadual.”.

Estrada do Contorno

- “Vai sair. No momento está sendo feito o projeto topográfico da estrada entre Mury e o trevo de Duas Barras, com 42 quilômetros de extensão. Na minha opinião, a Estrada do Contorno será a redenção da Região Centro-Norte Fluminense porque, além de tirar o trânsito pesado de dentro de Nova Friburgo e Bom Jardim e de todo o eixo rodoviário, vai criar oportunidades para atrair novas indústrias para ocuparem áreas que atualmente são totalmente improdutivas. A região será outra com a estrada.”.

- Com AVS

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