Gaddafi foi capturado vivo e assassinado |
Como se esperava, os imperialistas (EUA, França, Inglaterra e Itália), com o apoio de grupos líbios derrubaram o presidente da Líbia, Muammar Gaddafi. Mais do que isso: o assassinaram como fizeram com o presidente do Iraque, Saddam Hussein, e agora se preparam para saquear as riquezas dos líbios, especialmente no que concerne às reservas de petróleo e gás.
Mais uma vez, os imperialistas e colonialistas do ocidente, brancos e cristãos invadem um país soberano em uma cruzada, aos moldes das medievais, para ter o controle da energia fóssil que é o petróleo. São países cujos governos são perigosíssimos, armados até os dentes, possuidores de milhares de ogivas nucleares e com um aparato militar que não pode parar, porque é muito caro e por isso tem de ser usado para atender à trilionária indústria bélica, que é mais letal que o tráfico de drogas internacional.
Como se esperava, a morte do dirigente líbio foi tramada nas salas da ONU (Conselho de Segurança dominado por apenas cinco países) e da OTAN (EUA), órgãos de espoliação política e militar, criados para dar “legalidade” às ações criminosas de guerra dos países ocidentais desenvolvidos, que quase dizimaram seus povos em duas guerras mundiais, em uma selvageria que deixaria qualquer país de periferia que eles consideram selvagem, subdesenvolvido e atrasado com imensa vergonha e com um sentimento animal de ser.
Mais uma vez, lideranças contrárias aos interesses da globalização (nova forma de colonialismo e pirataria) foram mortas e seus países invadidos e bombardeados em nome da “liberdade”, da “democracia” e de um “mundo mais seguro”. Enquanto isso, o sistema capitalista excludente e belicoso derrete em Wall Street e nas praças européias importantes como a de Londres, com as populações desses países brancos, cristãos e desenvolvidos a gritar revoltados nas ruas contra a roubalheira do sistema financeiro e da leniência e subserviência de governos que foram e são cúmplices da jogatina praticada por empresas e instituições que, de forma criminosa, levaram à cabo uma crise econômica e financeira sem precedentes, que eliminou milhões de empregos desse povos que deitaram e rolaram durante quase cinco décadas com a opulência e a fartura às custas dos países africanos, asiáticos e principalmente os da América Latina, que sustentaram até a década de 1990 o alto padrão de vida dos europeus, estadunidenses, japoneses e outros países do assim denominado primeiro mundo, como o Canadá e a Austrália.
Como se esperava esses governantes de países desenvolvidos que agem secularmente como piratas e que, apesar de historicamente se odiarem, para roubar e matar se unem, porque precisam dessa vil aliança para movimentar seu parque industrial bélico e civil e assim renovar a circulação do dinheiro, inclusive o ilegal, que é lavado nos paraísos fiscais, grosso modo, porque todo mundo sabe disso, mas ninguém pega um tanque ou um míssil para destruir tais ”instituições” financeiras, que fomentam há séculos a fome, a miséria e a exploração dos povos menos desenvolvidos, no que concerne às suas infraestruturas e ao acesso às tecnologias, à educação de qualidade e ao sistema bancário e industrial que garanta a seus países desenvolvimento econômico e bem-estar social, o que é quase impossível alcançar sem o apoio dos países desenvolvidos, que se recusam a efetivar um marco em que a cooperação e o aprendizado sejam a tônica.
Mais uma vez na história esses países brancos e cristãos e ocidentais que se comportam como aves de rapina ou como cães predadores optam pelo saque das riquezas alheias e o torna crível e cinicamente aceitável perante a população mundial por intermédio do sistema midiático, notadamente a imprensa comercial e privada (privada nos dois sentidos, tá?), que porta-voz e ponta-de-lança do sistema de capitais inicia e termina um processo de demonização dos presidentes dos países agredidos e invadidos ao ponto de não se saber, de forma alguma, como pensam, como vivem e o que fazem os povos vítimas de bombas, de mísseis, de todo tipo de armas de grosso calibre, que não têm como se defender contra forças estrangeiras que quase se dizimaram nas duas guerras mundiais iniciadas pelos brancos cristãos e que se consideram, com a maior cara-de-pau possível, civilizados e não selvagens.
Como se esperava, Gaddafi foi assassinado tal qual ao Saddam. A questão não é se os dois dirigentes eram ditadores. O que importa nesses casos é que os países ocidentais que não se consideram selvagens, o que é uma grande desfaçatez, apoiaram, apóiam e sempre apoiarão ditaduras espalhadas em todo o planeta, porque é assim que esses países, com a ONU e a OTAN usadas como títeres da legalidade, agem em uma conduta para lá de questionável, pois moralmente sem credibilidade no que é relativo às diferenças dos povos, bem como aos seus interesses, que não se coadunam e por isso, geralmente, o país ou aliança mais forte belicamente e que controla regiões diversas por meio da geopolítica ataca seu alvo sem dar satisfação alguma à comunidade internacional, além de fazer da ONU uma organização fantoche, desacredita e humilhada pela prepotência e a arrogância dos Estados Unidos, cujo presidente Barack Obama, apesar da novidade de ser um homem negro, tem os mesmos defeitos, o mesmo perfil e a conduta e estratégias de seus antecessores, que é realizar guerra, invadir países para saquear e ter controle geopolítica de determinadas regiões, ao preço de sangue, muito sangue de povos, neste caso, árabes, que não conseguem há quase dois milênios se livrar de forças estrangeiras que não cansam de matar e de literalmente roubar seus países e sociedades.
Mais uma vez, moralmente os Estados Unidos sucumbem principalmente após o monumental desabamento do World Trade Center em 2001 e o derretimento de seu sistema de capitais no fim de 2008. O país do Capitão América aplicou de forma científica a tortura e a aceitou e a efetivou como prática corriqueira e ordinária para ter acesso a informações de pessoas consideradas inimigas, mesmo as que foram presas sem provas e acusação formal, pois desobediente às leis e às normas do Direito Internacional, e negou o mais fundamental e elementar dos direitos de cidadania e da humanidade: o habeas corpus. Seqüestrou, torturou e matou e seus mandatários reconheceram que a tortura era praticada e mesmo assim apoiaram tal ignomínia. Uma vergonha, que deixou a potência mundial como pária no que concerne à civilização, além de ter efetivado uma política diplomática unilateral e isolacionista, o que acarretou o recrudescimento das ações da direita estadunidense no que é referente à legalidade, ao contraditório, ao direito de defesa e no que é civilizado e não selvagem e animalesco.
Como se esperava, Muammar Gaddafi e as forças regulares e armadas da Líbia foram derrotados. O dirigente líbio — político nacionalista e que, apesar de seus erros e defeitos, desenvolveu o país do norte da África, que, juntamente com a África do Sul, é um dos dois mais desenvolvidos do continente, com IDH alto — foi morto, assassinado e mostrado ao público internacional como caça, como troféu. O povo líbio até então, não se sabe como ele vai ficar, tinha acesso a muitos benefícios sociais e que nunca foram mostrados pela imprensa comercial, privada e corporativa do ocidente. Nunca a imprensa hegemônica brasileira veiculou matérias sobre a Líbia, seu desenvolvimento e as conquistas sociais de seu povo, muito avançado para os padrões africanos. Essa imprensa apenas se preocupou em demonizar o presidente líbio, a fim de dar legalidade e razão às ações de pirataria explícita da OTAN, ou seja, dos EUA, da França, da Inglaterra e da Itália, países em profunda crise econômica e financeira e moralmente abalados, no que é relativo a discernir sobre o que é humano, legal e justo. É isso aí.
- Davis Sena Filho é jornalista
A morte de Gaddafi e a sociedade do espetáculo
A violência na Líbia destoa da 'Primavera Árabe' em número de mortos |
O corpo mutilado de Gaddafi vem sendo amplamente exibido pela mídia e sua morte celebrada como o símbolo do fim da tirania na Líbia. Segundo o analista egípcio e especialista em política do Oriente Médio, Mahan Abedin, em depoimento divulgado pela Folha de São Paulo (21/10/2011 – 5h26), o “fim” do ditador reforçará a adesão a levantes populares como forma de combater regimes autoritários. Abedin, assim como outros, compara positivamente a situação da Líbia com a deposição de ditadores vizinhos, o egípcio Hosni Murabak e o tunisiano Zine al-Abedine Ben Ali.
No entanto, há uma grande diferença entre estes movimentos populares que precisa ser seriamente considerada: o uso da violência. No Egito, assim como na Tunísia, as manifestações foram politizadas o suficiente para se pretenderem pacíficas. Obviamente isto não significa que ninguém morreu, que nenhum manifestante foi preso ou que não houve violência policial ou resistência por parte dos governos. Somente no Egito, segundo o relatório do ICG (International Crisis group), 9 mil manifestantes ficaram feridos e, pelo menos, 800 pessoas foram mortas. Na Tunísia o número de feridos divulgado pelo jornal Le Monde (5/2/2011 – p. 7) foi de mais de mil e a ONU contabilizou em torno de 300 mortos. Na Líbia, contudo, conforme números do próprio governo, 60 mil pessoas foram feridas, 4 mil estão desaparecidas e o número de mortos foi contabilizado entre 25 e 30 mil.
Um fator decisivo para tamanha diferença no número de mortos e feridos talvez tenha sido o envolvimento da OTAN no conflito na Líbia. Ou será que isso vai ser ignorado a fim de evitar um grave problema político? Não é por nada, mas o único conflito da longa primavera árabe em que a OTAN participou teve um percentual de mortos relativo à população aproximadamente 460 vezes maior do que no Egito e 180 vezes maior do que na Tunísia. Um número, sem dúvida, alarmante!
Por este e outros motivos, eu defendo que o evento na Líbia pode, sob uma determinada perspectiva, ser melhor comparado, por exemplo, com a morte brutal de Mussolini, de Saddam Hussein e até de bin Laden, mas não com os levantes democráticos árabes. Isso porque o que pareceu realmente importar não foi a justiça e a democracia, mas a exposição de corpos ensanguentados, maltratados e deformados pela sede de vingança como num julgamento medieval.
Tal tendência ao espetáculo me preocupa muito quando se pretende que ela esteja na base da democracia. Como pode o ódio, a ira, o assassinato brutal e a exposição do corpo como troféu combater a tirania e o terrorismo? Feliz ou infelizmente a democracia envolve muito mais do que a simples deposição de um tirano. Ela envolve maturidade política suficiente para se querer submetê-lo ao Tribunal. Mas, por querermos vingança é que a história não julgará Gaddafi, e o seu regime ficará conhecido como resultado de uma ação pessoal que se acabou assim que seu agente morreu a olhos vistos.
- Melina Duarte é doutoranda em Filosofia Política na Universide de Tromsø - Noruega
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