Nicolas Sarkozy, Barack Obama e David Cameron |
Nicolas Sarkozy, presidente da França, Barack Obama e David Cameron, primeiro-ministro britânico; líderes de potências interessadas no petróleo líbio, comemoraram com entusiasmo o fim de Muammar Gaddafi.
O anúncio da morte de Muammar Gaddafi foi comemorado por parte da população líbia, que saiu para festejar nas em Trípoli e Benghazi. Nas ruas da capital, centenas de pessoas levaram bandeiras do país e cantaram gritos de louvor a Deus. Ao mesmo tempo, muitos se perguntam sobre o futuro da Líbia, que há até pouco tempo sequer podia imaginar que deixaria de ser governado pelo ex-líder.
No campo internacional, o momento também é de inquietação. Acredita-se que a Otan, principal parceira do Conselho Nacional de Transição (CNT) na derrubada do governo de Gaddafi, deve realizar uma reunião nas próximas horas, anuncie o fim de sua ofensiva aérea na Líbia. O secretário-geral da aliança, Anders Fogh Rasmussen, disse que, com a morte de Gaddafi, “o encerramento da campanha militar ficou muito mais próximo”, e afirmou que irá coordenar o fim de sua missão com a ONU e o governo provisório.
O Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU pediu na sexta-feira uma investigação completa sobre a morte de Gaddafi.
-Não está claro como ele morreu. Existe a necessidade de uma investigação-, afirmou o porta-voz Rupert Colville a jornalistas em Genebra, na Suíça.
Citando as fotos de celular feitas na quinta-feira em Sirte, que mostram Gaddafi inicialmente ferido, e depois morto em meio a um enxame de combatentes inimigos, Colville acrescentou: “Analisadas conjuntamente, elas são muito perturbadoras”.
Uma comissão internacional de inquérito, criada pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU, já está investigando assassinatos, torturas e outros crimes na Líbia.
Colville disse que espera que a equipe examine também as circunstâncias da morte de Gaddafi.
-É um princípio fundamental do direito internacional que pessoas acusadas de crimes graves devem ser julgadas, se possível. Execuções sumárias são estritamente ilegais. É diferente se alguém é morto em combate-, afirmou à agência inglesa de notícias Reuters.
Repercussão internacional
Em visita a Angola, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Antonio Patriota, disse que “o Brasil espera que a violência na Líbia cesse, que as operações militares se encerrem e que o povo líbio siga nas suas aspirações e anseios, no espírito de diálogo e de reconstrução”.
No início da semana, durante o Fórum do Ibas (Índia, Brasil e África do Sul), em Pretória, a presidenta Dilma se manifestou contra a ação armada da comunidade internacional na Líbia. “Na Líbia, atuamos orientados pela certeza de que intervenções armadas e especialmente as realizadas à margem do direito internacional não trazem a paz, nem protegem os direitos humanos”, disse a presidenta.
Exaltação europeia
Líderes estrangeiros, como o presidente da França, Nicolas Sarkozy e o premiê britânico, David Cameron exaltaram a captura de Gaddafi e pediram união à Líbia.
-O desaparecimento de Muammar Gaddafi é um grande passo na luta conduzida há mais de oito meses pelo povo líbio para livrar-se do regime ditatorial e violento imposto durante mais de 40 anos-, declarou Sarkozy em um comunicado.
Cameron reagiu à morte do líder com entusiasmo, dizendo que as pessoas devem se lembrar de todas as vítimas que “morrem nas mãos do ditador brutal”. O premiê relembrou particularmente dois casos: o atentado de Lockerbie, quando um avião que decolou de Londres com destino à Nova York explodiu sobre a cidade escocesa matando 270 pessoas, em 1988, e a morte da policial britânica Yvonne Joyce Fletcher durante uma manifestação na Embaixada da Líbia em Londres, em 1984.
Obama
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse que a morte de Gaddafi “encerra um capítulo doloroso” para a Líbia, mas destacou que o país tem um caminho “tortuoso” rumo à democracia plena.
Segundo Obama, os líbios têm agora a responsabilidade de construir um país tolerante, democrático e inclusivo.
-Nós aguardamos ansiosamente o anúncio da liberação do país, da formação rápida de um governo interino e de uma transição estável para as primeiras eleições livres e justas na Líbia-, disse o presidente.
Obama pediu que os líbios continuem a trabalhar com a comunidade internacional para garantir a segurança de armas perigosas em território líbio, e garantiu que os Estados Unidos serão parceiros do povo líbio nesta nova fase do país.
O presidente deixou claro que vê a morte de Gaddafi como algo que veio comprovar o acerto de sua estratégia de “liderar desde atrás”, que foi criticada nos EUA por deixar o país em um papel de apoio nos ataques da Otan na Líbia.
-Sem colocar um único militar norte-americano em campo, alcançamos nossos objetivos-, disse Obama em discurso televisionado para os norte-americanos, já exaustos das guerras prolongadas no Iraque e Afeganistão.
Obama disse também que a morte de Gaddafi deve servir de aviso a outros líderes autoritários no Oriente Médio, onde revoltas já depuseram líderes que passaram muitos anos no poder no Egito e na Tunísia.
Washington está fazendo pressão por mais sanções contra o presidente da Síria, Bashar al-Assad, devido à repressão brutal dos protestos pró-democracia nesse país.
Guerra ao Terror
Desde os atentados ao World Trade Center, em 11 de setembro de 2001, os Estados Unidos estão envolvidos em guerras em todo o mundo árabe, onde regimes fundamentalistas seriam berço de movimentos terroristas que colocam o mundo em risco.
O Watson Institute, da Brown University lançou neste ano estudo que ilustra em números os prejuízos causados pela chamada Guerra ao Terror.
Os dados revelam que as consequências foram globais, resultando num conflito que ao longo da última década deixou mais de 250 mil mortos. Dentre eles, cerca de 130 mil eram civis.
O número de mortes no Afeganistão, país invadido por tropas norte-americanas, aumentou desde que a guerra começou, há dez anos. Mais vidas estão sendo perdidas na guerra do que quando o Talebã estava no controle do país. Hoje, o saldo anual de mortos chega a 12000.
No Paquistão, a situação não é diferente. Desde 2004, conflitos armados devastam o país. Ataques de aviões não-tripulados dos EUA mataram cerca de duas mil pessoas, em grande parte mulheres e crianças. O número total de mortos no país é de 35.600. Já as vítimas do 11/09 não chegam a 3 mil.
Estima-se que na última década os EUA tenham gasto cerca de US$ 4 trilhões na Guerra ao Terror.
- Com agências internacionais
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