A dança das cadeiras em que se transformou a política de Nova Friburgo, com afastamentos e nomeações de prefeitos e secretários a toda hora, foi objeto de enquete promovida por A Voz da Serra em sua edição da última terça-feira, 22 de novembro. Na reportagem aparecem opiniões de dez pessoas de diferentes idades e profissões, o que vale dizer de diferentes modos de inserção na sociedade local.
Há unanimidade entre os entrevistados na rejeição ao modelo político que tem levado a acontecimentos como o atual.
A ideia de que se trata de um modelo político, isto é, de algo que se repete periodicamente, é sugerida por alguns dos entrevistados que se lembravam do episódio das disputas entre Paulo Azevedo e Nelci da Silva, por um lado, e Heródoto Bento de Mello, por outro, no período de 1992 a 1997, com consequências semelhantes nas trocas de personagens na administração da cidade.
E não seria exagero localizar a origem desse modelo político nas mudanças vividas pela cidade a partir dos anos 1910-1911, com o processo de introdução da energia elétrica, condição para o surgimento da cidade industrial que se formou. Naquela época, Galdino do Valle Filho e Julius Arp representavam o lado inovador, enquanto o presidente da Câmara Municipal de Nova Friburgo, coronel Galiano Emílio das Neves Júnior, era o personagem das forças conservadoras, dos fazendeiros de café e agregados.
Pode-se dizer com certeza que existe uma rejeição do modelo político com base nas falas dos entrevistados na reportagem. O que não se pode saber muito bem é se há uma inclinação coletiva mais definida por alguma outra maneira de se administrar a vida pública da cidade. A auxiliar de produção Patrícia Jacob, de 33 anos, moradora do bairro Cordoeira, diz que “tem que ter nova eleição porque está feia a coisa”.
Outro personagem das entrevistas foi o trabalhador da indústria Ramon Klein, 21 anos, do Campo do Coelho. Ele diz o seguinte: “Essa disputa política sem propostas, um partido com picuinhas com outro, faz com que a população esteja na mesma situação de sempre. (...) A população não ganha nada com isso.”
A proposta de realizarem-se novas eleições formulada por Patrícia está presente nas diversas manifestações que vêm ocorrendo desde o afastamento, pela Justiça, há menos de um mês, do ex-prefeito substituto Dermeval Barbosa Moreira Neto.
Não se pode afirmar que este posicionamento político da auxiliar de produção seja motivado pelas manifestações, embora a coincidência seja um fato.
As manifestações têm sido propostas, principalmente, por pessoas ligadas aos partidos de esquerda Partido Comunista Brasileiro (PCB), Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) e Partido do Socialismo e da Liberdade (PSOL), além de algumas sem partido. Trata-se de um agrupamento com uma crítica definida ao modo como se organiza a sociedade atual, embora sem um programa político comum.
A rejeição ao modelo vigente, expressa nas entrevistas publicadas, é algo que se engendra nas almas dos cidadãos de Nova Friburgo como resultado da vivência coletiva e das reflexões que se processam nos diversos espaços de sociabilidade locais. As manifestações e o sentimento coletivo captado pela reportagem são dois fenômenos diferentes, embora possam vir a convergir para um mesmo ponto.
Outro aspecto interessante do atual momento é o fato de os entrevistados pelo jornal terem o perfil do que se chamou de “nova classe média”, força social emergente nacionalmente. Não são pessoas das antigas elites, nem descendem ideologicamente dos movimentos contestadores dos anos 1960-70. É algo novo que a vida social está criando.
- Maurício Siaines é jornalista e mestre em sociologia
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